3.31.2007

Memória recente

Aqui há algum tempo, antes dos comprimidos-milagrosos-que-curam-tudo-nem-que-seja-ficando-a-dormir-durante-dois-dias-sem-parar, o meu truque para afastar fantasmas, memórias que me faziam cair num buraco cada vez mais profundo, era, à miníma ponta do lençol do fantasma, entoar uma música que tinha o condão de me esvaziar o cérebro doutros pensamentos.

Essa música aí ao lado, a preferida da minha miuda, seria perfeita para isso.

3.30.2007

De todos

os defeitos que se possam ter, e se eu estou carregadinha deles, de todos aquele que não entendo, não perdoo e me é completamente incompreenssível é a cobardia. Ainda para mais porque é indisfarçável, porque é demasiado obvio mesmo quando escondido sob capas e capas de outra coisa qualquer.
Sou só eu?

A vida a voltar ao normal

Depois de meses sem conseguir dormir mais do que 2 horas seguidas, a evitar a custo cafés e estimulantes, a acordar a meio da noite, a meio da manhã, a adormecer antes do jantar, a dormir no sofá para não ter que ir para a cama.
A tomar comprimidos a meio da noite e da manhã, finalmente parece que caí em mim. Consigo dormir a noite inteira. Tenho sono quando me acordam de manhã, tinha saudades de ter sono.
Parece estúpido, saudades de ter sono quando todos se queixam que não dormem o suficiente, mas experimentem passar por meses de insónias a ver como é.

(Miguel C., gostas mais deste? Sempre é mais positivo,não?)

3.29.2007

Voltando à velha questão

que nunca deixa de estar na (nossa?) minha cabeça.

Foi quando entrei (e posteriormente saí) na Second Life que a questão mais me atormentou. Exliquei porquê, acho, no post de despedida do blog: estou habituada a avaliar situações, pessoas e sentimentos instintivamente, pelos gestos, pela entoação, pela veracidade menor ou maior do sorriso.
Foi por não ter esta espécie de guia dentro desse mundo que não me consegui adaptar e vi-me forçada a sair, tudo se tornou demasiado confuso.
Mas, uma vez cá fora, nem por isso as coisas se tornaram mais simples. Mantinha o contacto com algumas pessoas de lá e fui completamente encadeada (mais uma vez por me faltarem as ferramentas básicas de avaliação), sugada para uma situação errónea que, estou absolutamente segura, nunca se teria passado se não tivesse tido uma base virtual ("algo que não é físico, apenas conceptual").
Lamento que assim tenha sido, lamento se isso trouxe enganos e desapontamentos a alguém. Por mim não lamento, todas as experiências me são valiosas nem que seja para saber que não as quero repetir.

E no entanto já tenho tido boas surpresas também (mesmo baseadas em relações virtuais).

Para si, desejo-lhe a wonderful life, (sem rancores, espero).

A propósito

de um excelente post de outra amiga, lembro-me do primeiro dia deste ano. Dia 1, sim, e nós (eu, eles, a minha grande, grande amiga e os seus irmãos) num skate park a uma hora que era já nocturna. Eles de skate, ela de ténis com rodas e já a irmos embora quando ela aparece a choramingar com a mão no queixo. Caíu de uma rampa mas não confessa, diz que tropeçou nos ténis. A ferida é pequena e, como sempre desdramatizo, digo-lhe que já passa. Vamos embora.
No caminho relvado até ao carro vomita duas vezes e ensaia três desmaios. Corremos para o hospital onde lhe chamam "reações vagais" e lhe dão uns pontos no queixo. Fico com ela, ainda impressionada pela coragem desta miuda, 7 anos, nem um gemido. É cosida e pede-me para lhe dar a mão (tem um pano que lhe cobre a cara toda com excepção do queixo). Nem um ai e eu a perder o chão. Largo-lhe a mão e oiço o enfermeiro "sente-se ali, ponha a cabeça abaixo do nível dos joelhos".
Não me consigo levantar para lhe voltar a dar mão.
Não sei se já aqui tinha dito. Somos assim, nós as duas, iguais, vagais, a funcionar ao retardador com medo que alguém nos descubra as lágrimas e as fraquezas.
A parte boa é que, por nos conhecermos tão bem por dentro e por fora uma da outra, advinhamos-nos as dores, os medos e as alegrias contidas. Só entre nós.

PS: A musica de hoje é dedicada a ela, mesmo que não a oiça por estar na colónia. É a música preferida dela, quase quase aos 8 anos.

3.28.2007

Armário da vida



Desde que descobri este blog, praticamente nem tenho que inventar posts.

3.27.2007

O meu retiro


tirado daqui, claro

O blog

todo desconfigurado e eu sem cabeça para o pôr direito. Já lá vamos (amanhã ou assim).

3.26.2007

Do dia do pai

Na escola dele deram uma folha para os pais escreverem o que era para eles "ser pai" e afixaram numa árvore de papel.

Gostei muito de um pai que escreveu, entre outras coisas queridas "ser pai é algo grande demais para poder ser escrito com frases feitas".

Quanto ao pai deles, escreveu uma data de frases feitas quando deveria, para ter sido verdadeiro, ter escrito "ser pai é falhar todos os fins de semana de visita que tenho com os meus filhos, e os outros dias também".

Eu tenho

uma amiga famosa, que além de escrever bem como o raio ainda aparece no Expresso e mais não sei quê.
Isto só para dizer que, se virem a fotografia dela, não liguem, ela é infinitamente mais bonita em pessoa.

3.25.2007

Eu

que nem sou dessas pessoas que diz "nunca" a quase nada.
Que ponho tudo em causa mesmo as minha opções e opiniões futuras consegui quebrar o único "nunca" que pronuncio à boca cheia.
(Arrependida e não volto a fazer, ou espero não tornar).

Deito-o

e dou-lhe muitos beijinhos:
"gosto muito, muito, muito, muito, muito, muito de ti".

E ele "mãe, gosto muito, muito, muito, muito pouco de ti".

3.22.2007

Pequeno aviso

qualquer coisa, pessoa ou animal que ousar intrometer-se no meu caminho (mais ou menos errado) será impiedosamente chutado a uma velocidade supersónica.
Temos pena, mas por agora será assim.

3.21.2007

Tinha este post em draft há 5 meses e hoje, de falta de inspiração, enfio-o aqui já sem grande sentido

Olho em retrospectiva para a minha vida
e não me arrependo de nada. Demorei muito a chegar aqui, uma vida, três décadas.

Parece conversa "não me arrependo de nada", mas é mesmo assim. Vejo a minha vida (todas as vidas) como um percurso. Eu escolhi um percurso erróneo, armadilhado. Não tenho essa esperteza inata de fazer as opções certas logo à partida, preciso de errar muitas vezes (ou pelo menos uma vez) para perceber que aquela não foi a escolha certa.

Comecei por escolher o caminho que me parecia mais brilhante. Todos os outros me pareciam baços, aborrecidos. Depois, está claro, comecei a cair nas armadilhas, uns buracos mais ou menos fundos de onde me erguia a pulso. De cada vez que chegava ao topo, talvez fosse da luz do sol a bater noutros caminhos, talvez fosse da posição agachada de quem se ergue duma cova literalmente a pulso, parecia ver outros caminhos e pensava "talvez se...", mas pareciam-me demasiado longínquos, os outros. O cansaço da subida à força de braços e de pernas não me deixava fôlego para voltar tudo atrás, para pensar noutros caminhos.

Assim se passaram anos. Do cansaço, das armadilhas que ainda surgiam , o caminho tinha já perdido todo o seu brilho, e as armadilhas (de obvias que já se tinham tornado) não faziam grande mossa, bastava um pulinho para as contornar. Era demasiado evidente a existencia de outros caminhos, mas ainda assim sentia que era nesse caminho que me devia manter, como se por fatalidade de ter errado no caminho agora tivesse que pagar o erro fazendo o percurso até ao fim. Claro que isto era apenas uma grande estupidez, cobardia, falta de confiança.

Até que por fim, tendo uma dessas armadilhas mais bem disfaçadas me deitado por terra num buraco sem vista para o topo, depois da costumeira escalada a pulso, olho para o caminho do costume e ele já lá nem está, desabou sob o peso de todos aqueles buracos de armadilha, desfez-se em nada e, olhando para trás, também pouco se vê.
Por fim vejo outros caminhos, menos brilhantes e definidos, ainda a uma distância considerável. Sei perfeitamente que sou capaz de a percorrer, depois de ter conseguido escalar todos aqueles buracos de armadilha, qualquer percurso parece uma brincadeira. E sei que vou lá chegar, mais dia menos dia, a esse caminho que é o mais certo.

3.20.2007

O dia

Era hoje.
Teresa sonhava todas as noites com esse dia, desde há três anos e meio. Assim tinha sido desde a primeira noite naquela cela, o medo a corroer-lhe as entranhas e barulhos estranhos que pareciam vir das paredes. Um balde no chão, aquilo enojava-a. Um lavatório, uma cama (ou deveria chamar-lhe catre?), uma mesinha e uma cadeira. Achou que não ía conseguir dormir, do pavor daquilo tudo, guardas, outras presas que certamente não iriam gostar dela, ela não pertencia ali (isso sabia-o) e só o azar de ter conhecido o homem errado a tinha atirado para ali (como alguns erros se pagam caro, pensou). Não se arrependia de o ter feito, a ela nenhum homem havia de tocar e ficar inteiro, a não ser por esses três anos e meio que iria perder, tempo de pavor e de pesadelos.
Acabou por conseguir adormecer, ao fim de algumas horas, e nem sonhou com a prisão mas sim com o dia em que haveria de sair. Esse sonho repetiu-se todas as noites durante esses três anos e meio.
Tinha chegado o dia e agora Teresa temia a liberdade que tanto sonhara. As pernas tremiam-lhe à porta da prisão e viu o jardim mesmo em frente. Apeteceu-lhe correr por esse jardim mas teve medo que olhassem para ela, que percebessem que vinha da prisão, que a apontassem.
Atravessou a medo a rua, tropeçando nos passeios e chegou por fim ao jardim. Estava deserto à excepção de uns casais nada interessados no resto do mundo.
Inspirou fundo, o ar ali era muito diferente, começou a sentir-se intoxicada com tanta liberdade. Era livre, podia fazer o que queria e tudo o que lhe passava pela cabeça fazer eram coisas potencialmente perigosas.
Correu pelo jardim, inspirando a liberdade como podia, meia zonza com tanto espaço para percorrer, com tanta largura de vida.

3.19.2007

Dia do Pai

folga para a mãe. Maravilha.

3.16.2007

Nem tudo são queixas


Hoje os meus pés andaram satisfeitos, pela primeira vez este ano calçaram sandálias.

Não me canso de divulgar

Agora que descobri o melhor blog do universo.

Depois de andar

a chatear toda a gente com a história do "não há opções perfeitas e sempre que escolhemos qualquer coisa perdemos algo e ganhamos algo", incluíndo os miudos já que nunca é cedo demais para aprender estas preciosas lições sobre a imperfeição da vida, eis que me debato entre os efeitos secundários dos medicamentos e tenho que escolher entre o mal estar físico ou mental.

Ai, é tão reconfortante quando os moralismos nos batem na cara assim sem aviso prévio...

3.14.2007

A ver se me lembro de como a coisa se passou

e há-de ter sido mais ou menos assim:

"Ai, mãe, hoje tenho mesmo que estudar, tenho ficha de avaliação de Inglês e nem sei dizer nenhum número, faltei no dia em que deram os números!"

Acho muito bem, estudar, em vez de se ir pôr no computador a jogar Sims.

"Também não podia ir, estou de castigo."

Ai está? Ah pois é!

"Mas é só de Messenger, não é de computador."

Ah...(será?).

A dois meses dos 3 anos

Desde o início do mês que anda na creche. A adaptação foi fácil, mérito dele, mérito da escola. Chorou umas duas vezes e pronto, nada de grandes dramas.
Ontem quando o fui buscar disse-me:

mãe, desculpa.

desculpa porquê, meu querido?

porque eu não gostava da escola.

mas agora já gosta, não é?

gosto, e tenho amigos.

Apesar de tudo, é um miúdo fácil.

3.12.2007

48 horas

Este vai sair dolorosamente confuso, que é como o consigo escrever.

Foi muito bom (doce).
Mas não passou de uma despedida (amargo).

Certamente um dia será uma lembrança delicodoce, por agora é apenas uma grande confusão de sentimentos contraditórios.

Sigamos para bingo (de novo).

3.09.2007

Hoje

é sexta-feira e vou fazer espinafres para o jantar, olaré!

3.08.2007

Chamo-a

"A mãe comprou um vestido muito giro, queres ver?"
Visto o vestido.
"É giro, mas tens mesmo que engordar um bocadinho, mãe."

(et tu?)

3.06.2007

Hoje faz 1 ano

Uma pessoa vai a caminhar descansadinha. Não tem bem a certeza de estar no caminho certo (tem aliás, muitas dúvidas que o seja), mas vai em frente, chutando umas pedras que lhe vão aparecendo mais ou menos no meio do caminho. Continua duvidando desse trilho, mas enxota as dúvidas como moscas incómodas de Verão, afinal parece não haver outro melhor e à falta de melhor, melhor será ficar por esse mesmo, enxotando as dúvidas como gotas de chuva incómodas na gola do casaco.
Andando em frente sem olhar muito para trás e de repente, ao mínimo descuído aí estava ele, um pedragulho de 2 metros que aparece assim, sem avisar. Íamos perdendo um pé debaixo dessa pedra enorme e ficou lá ainda uma poça de sangue. A dor é imensa, vamo-nos esvair parece, mas afinal não. Arrancamos a custo o pé (a poça de sangue coagulado ainda lá está) e fazemos um curativo, assim um bocado mal feito. Vai-se curar, sabemos.
Mas agora é impossivel seguir por esse caminho de novo. Não só por causa da pedra (e da poça de sangue, que nojo), porque essa até conseguiríamos contornar. É que por causa dela descobrimos que aquele caminho não é definitivamente o nosso. Não queremos caminhos onde possam cair pedras assim do meio do nada e arrancar-nos partes do corpo.
Foi há 1 ano. Faz hoje um ano que percorro outro(s) caminho(s). E quase agradeço a essa pedra, por hedionda que tenha sido, me ter mostrado que é possível fazê-lo (e sobreviver).

3.05.2007

Há um filme de que gosto muito




Histórias de Nova Iorque.

São três histórias, sem relação entre si, realizadas por três diferentes realizadores (Martin Scorsese, Francis Ford Coppola e Woody Allen) e a única relação entre elas é que se passam em Nova Iorque. A minha preferida é a do meio, que é aliás a menos aplaudida pelos críticos ("Life without Zoe"). Todos os dias me lembro desta história, quando olho para a minha filha. Se soubesse melhor teria-lhe dado o nome Zoe. Um dia, iremos a Nova Iorque só as duas.

3.04.2007

Entramos nesse avião

ou avioneta ou lá o que é. É pequeno e faz um barulho ensurdecedor com os motores. Com os capacetes postos mal ouvimos o que o instrutor nos diz. Estou apavorada e agarro-me a ti com força, tu sorris. Tenho medo de entender mal o que diz o instrutor, de ir parar ao chão sem conseguir abrir o pára-quedas (mesmo sabendo que vou saltar agarrada ao instrutor, o risco é minímo mas ainda assim). Planeámos tanto este momento, fazê-lo, saltar de pára-quedas, voar pelo ceu, os dois. Saltamos, é um voo rápido, quase sem memória, passa tudo rápido demais "foi bom!", exclamas, "havemos de fazê-lo de novo mas para a próxima agarrados um ao outro".
Vamos para o hotel. Há pistas para descer, peço-te que vamos à cor-de-laranja, por uma vez quero ganhar-te na descida. Ris e dizes que sim, que vamos à que eu quiser, que agora será tudo como eu quiser.
Descemos a pista, o vento gelado na cara, a entrar pelas narinas adentro e essa sensação de falta de ar misturada com adrenalina, deixas-me ganhar, eu sei (mas fingo que não percebi) e no fim atiramo-nos de costas para a neve, a rir às gargalhadas.
No avião de volta para casa deixas-me adormecer mesmo na descida, não fiz a descompressão e não sinto agora metade da cara. Sei que me escorrem lágrimas só desse lado (sinto o líquido quente na bochecha dormente) e a dor desse lado é como se me estivessem a picar com mil picos ao mesmo tempo. Ficas aflito, queres levar-me ao hospital mas não te deixo "isto passa, só não me deixes voltar a dormir na descida".
Chego a casa, essa sensação misturada de conforto com saudade do fim de semana (passou a correr).
Estou tão cansada que me vou deitar mesmo sem desfazer a mala, adormeço para, como sempre, acordar a meio da noite lavada em lágrimas.
Só em sonhos me lembro do teu funeral, só quando adormeço sinto o teu lado da cama vazio, há várias semanas que partiste e mesmo assim fui no nosso fim de semana há tanto tempo planeado. Quando vou aprender a viver com a tua morte e a sonhar com a nossa vida?

3.02.2007

Descobri um blog

absolutamente delicioso.

Rendi-me logo ao primeiro post:

A vida começa muito cedo

agora. Lá pelas 2, 3 da manhã. Depois dá umas tréguas até às 6 e meia. Às 7 acabou-se, às 8 já estou a receber sms (ao engano, claro).
Habituei-me a (não) dormir aos bochechos e pergunto-me se algum dia conseguirei dormir uma noite inteira de sono com sonhos (nem sonhos consigo ter no meio dos bochechos).
Tudo isto sem um café durante o dia (estão-me proibidos os cafés).
A noite e o dia misturam-se sem contornos muito definidos, não admira que não consiga produzir absolutamente nada, com a cabeça neste estado.

pessoas com extremo bom gosto