6.30.2008

Vermelho sangue

Por razões que não interessam a ninguém, pintei as unhas de vermelho sangue coagulado. Já sou tão adultinha para tanta coisa, mas ainda não me consigo ver com as unhas pintadas de cor. Olhava para aquilo e sentia o poder da coisa, os meus dedos aos gritos "acabei de esfolar alguém e trago comigo sangue coagulado dele nas pontas dos dedos, à laia de troféu". Mas. Na verdade eu não quero imaginar o sangue de ninguém nas pontas dos dedos.

6.26.2008

À hora do café

explico ao Amigo que agora o que não quero é chatices de nenhum tipo, mas que quando comecei foi por achar que tinha de me tornar numa pessoa melhor e a abstinência fazia parte desse plano (o que faz tanto sentido como usar roupa do avesso para dar sorte) mas que tinha falhado miseravelmente. Se tinha ficado alguma coisa, era uma pessoa ainda pior.
O Amigo só responde que isso é óbvio, que as melhores pessoas são as que fazem sexo 3 vezes ao dia.
Pois.

Posso duvidar de muita coisa

mas nunca da capacidade de reinvenção de insultos das crianças.

-És uma gay, M.
-E tu és um lésbico.

6.25.2008

6.24.2008

Confissão

Trato sempre o meu ex-qq-coisa por "querido" só para receber o tratamento por "cariño" de volta.
Sou feita de um acumular de fraquezas.

6.22.2008

A melhor pergunta que me fizeram ultimamente:

"mas vocês [bloggers] também fazem outras coisas, também trabalham e assim?"

O que me faz pensar que de facto andamos é todos a lutar pelas causas erradas.
Para quando o estatuto do trabalhador-blogger (ou blogueiro, ou autor de blog)?
Para quando o direito a horário de trabalho reduzido, subsídio de risco e reforma antecipada?
Acho mal pois acho.
Se alguém (não eu, sou demasiado preguiçosa para causas) quiser subscrever esta ideia, inscrevo-me já como apoiante.

6.21.2008

Ahhhhhrg

Preciso urgentemente de aprender a calar-me mais.

(em casa)
-Ah, tinha dito à L. que lhe ligava para ir ao teu sarau porque há sempre homens giros nos teus saraus mas acho que não vou ligar.

(à porta do Pavilhão, rodeadas de polícia de choque)
- mãe, já contei um.
- um quê?
- um senhor giro.

(senhor-giro é uma conjunção que faz todo o sentido).

6.19.2008

Já tiveram pena daqueles meninos

que nas festas de final do ano não têm pai nem mãe que se babem, chorem, tirem fotografias, filmem, se atropelem uns aos outros para chegar mais perto do palco?
Sabem porque é que isso acontece? Porque têm um pai que se está literalmente a borrifar para eles e uma mãe que tem um chefe mentecapto.

Há dias em que detesto mesmo a minha vida.

6.18.2008

Às primeiras até pode ter piada

não sei bem quando foi, se foi progressivo, se foi assim de um dia para o outro. Sei que quem nos conhece à parte e depois nos vê juntas nos vê quase iguais. Será nos gestos e no sorriso, na forma do corpo, mas sobretudo na maneira de falar, no que dizemos, no que calamos. Sim, somos parecidas como mãe e filha podem ser parecidas, às vezes cansa ouvir o "igualzinha a ti", mas em geral facilita bastante. Um exercício para a entender a ela resulta num em que me percebo melhor e quando me tento descobrir, acabo por conhecê-la um pouco mais.
Ao jantar, vimos um programa em que mulheres com excesso de peso e celulite foram submetidas a cirurgias para um interminável concurso de beleza plastificada. Invariavelmente são casadas e ficaram assim como consequência das gravidezes. Enjoada com o excesso de peles e celulites, não acabei de jantar e devo ter dito qualquer coisa como "se continuo a comer assim ainda fico como elas". Vi-lhe o rosto a contorcer-se. O gemido, não se conteve, os berros "a mãe é magríssima, se deixa de comer vai ficar anoréctica".
(Tenho tanto medo que ela se torne anoréctica).

Desafio qualquer um

a explicar a uma criança de 4 anos sem noção de pátria que a bandeira de Portugal que encontrou não sei onde é do país onde nasceu e vive e não de um clube de futebol.
O máximo que me concedeu, com alta tolerância da parte dele, foi um "pronto, mãe, é das duas coisas, de Portugal e do futebol", entre gritos e pulos "estamos a apoiar Portugal! Portugal! Portugal!".
Não é de espantar, se nem os adultos conseguem entender a diferença.

6.17.2008

Durante quanto tempo

isso esteve lá, mudo, calado, sossegado não sei. Duas semanas parece-me. À espera do dia em que o cansaço, a musica deprimente nos ouvidos, o livro a puxar para a tristeza. Desse dia em que a viagem era longa, interminável e o cansaço absurdo, em que o nervoso da partida tinha sido afogado pela carga de nervos de uma gritaria ao telefone, da absoluta injustiça, revolta, raiva transformada em lágrimas sentadas na camioneta.
De quanto tempo teria passado sem tudo isso, uma mágoa calada, funda, sem raiva nem explosões, sem lágrimas, com sonhos presentes a substituir tudo isso. Dos últimos dias, eram sempre últimos mesmo quando já se tinham passado anos desde que achámos que seriam os últimos. De quando me ía embora ("estás tão bonita", como a dizer um adeus final). De quando era pequena e o via a arranjar-se de manhã, a barba feita com um pincel grosso e lâminas, esfregar o corpo com álcool, vestir-se à janela ("o teu avô gosta de dar espectáculo", deve ter sido a única coisa que lhe herdei, o vestir-me à janela, como se o vidro não deixasse ver para dentro de casa).
O meu avô morreu da morte boa, da que nos deixa despedir-nos, quase a desejar que se vá para que não tenha de viver assim, sempre com dores, já sem vida possível.
O meu avô foi-se embora e despedimo-nos de todas as maneiras que é possível. Adeus, à pessoa que, (em conjunto com o meu pai) sabia mais do mundo. Adeus ao amor às bibliotecas e aos livros que partilhávamos desde sempre. Adeus às discussões acesas sobre política, às opiniões que nos dividiram e nos obrigaram a fazer respeitar a opinião contrária, a dos outros.
Adeus sempre, e nunca, espero-te nos sonhos do costume.

6.16.2008

Este ano

não terei férias. Não serve este post como um queixume, passei anos da minha vida em férias, tive meses de Verão em que fui todos os dias à praia (ainda o ano passado), nem sinto que tenha o direito de me lamentar.
Tive estes 3 dias como férias, com praia a sério (sem horas para chegar e para sair), com horas a ler e a ouvir música, com calor e sol e conversas da treta, cartadas, banhos de mar e de piscina e, claro, pouca vontade de voltar ao trânsito, à gasolina, às contas por pagar, ao supermercado, à ginástica dos horários impossíveis, às frustrações do outro atiradas para cima aos berros (grita à vontade, para mim és nada como tudo o que dizes e fazes).
Carrego comigo os dias de sol e o mar, os sorrisos dos meus filhos e o cheiro deles, os nossos risos, os livros que li, a música que vai enchendo o iPod (neste momento bloqueadíssimo).
E por agora, será suficiente para me aguentar.

6.12.2008

Matéria

De manhã cheguei muito atrasada ao emprego. As coisas para arrumar para um fim de semana fora mas, sobretudo, ela lembrar-se que queria levar a Nintendo e não a encontrar. Horas à procura da coisa e nada, stress, berros, birras tremendas (primeiro dela, depois minha), choros, ameaças de castigo, moralismos, portas a bater.
Deixei-a na escola de olhos inchados, não a volto a ver até Domingo, cheguei ao emprego de olhos inchados.
Como posso ter ficado tão preocupada por causa de uma coisa, será castigo suficiente para ela não a ter. Como posso ter deixado a minha miúda ir para a escola destroçada quando não estarei de noite para a consolar. Como posso ter ficado tão histérica pelo desapego dela às coisas materiais quando eu própria faço o mesmo (por não ter outra alternativa que não ignorar os apelos da matéria).
Quero dizer-lhe que não interessa, que havemos de procurar de cima abaixo até encontrar aquilo, que se não encontrarmos, paciência, tem a do irmão e poderá juntar dinheiro para comprar uma nova se quiser.
Quero dizer-lhe que nada disso tem importância, que o importante é ficarmos em casa as duas porque lhe dói a garganta (e mandei-a para a escola com uma colher de xarope), que teremos tempo para mimos e procurar a consola, que tudo não vai passar de uma recordação vagamente amarga. Explicar-lhe que se me irrito com ela é porque vejo tanto de mim nela e me estou a irritar comigo própria.
Quero mas não tenho como, que já não a vejo até Domingo, quero ficar mas não tenho como, tenho de vir trabalhar para o meu emprego de merda onde mal ganho para pagar as contas (sim, muitas ficam por pagar e vivo no terror de me cortarem a água/luz/gás).
Mas não quero que isso passe para eles, que eu tenha de aprender a lidar com isso, mas eles não, eles nunca. E passa, não o consigo evitar.
Que pouco sou para o tanto que eles merecem.

*não, há coisas que não vou entender nunca, que queres que faça?

6.10.2008

Feriado

Como se não bastasse de cada vez que saio à noite acabar no Lux, frequento a praia com maior numero de gays por metro quadrado da costa centro/sul.
Nestes dias (todos) os homens parecem dividir-se em 3 grupos: Os com menos 10 anos do que eu (não vale a pena verem o perfil, tenho 32), os com aliança no dedo e os que não usam aliança porque a lei não lhes permite casar.
Deve ser a isto que chamam Mercado Negro.

6.08.2008

Prom night

Na secundária do meu bairro - gosto de dizer "o meu bairro", de assumir que pertenço a este lugar, mesmo sendo um bairro muito banal; não tem o charme do Chiado, nem a modernidade de Telheiras, nem a graça do Bairro Alto, nem a suave harmonia de Campo de Ourique, nem o glamour da Av. de Roma.
Por outro lado, também não tem a decadência dos Anjos, nem o abandono nocturno do Saldanha, nem a tristeza permanente da Graça.
É um bairro muito normal sem características que o possam descrever.
E, na secundária deste bairro, o Prom night (que em português se traduziria perfeitamente por "baile de finalistas", não fosse o caso daquele ser uma imitação de prom, mesmo a reproduzir as séries americanas), ao qual por sorte (ou azar) assisti parcialmente. Rapazes de fato, como irão passar o resto das vidas, miúdas com os vestidos que levam a casamentos, sem se aguentarem nos saltos do hábito dos ténis diários. Abraços, alguma histeria, cigarros fumados a meias na rua, beijos escondidos.
O que pensarão estes miúdos da vida que vem a seguir, o que pensaria eu da vida que viria a seguir?

6.06.2008

Coisas que até me convenciam a gostar de futebol*



Quique Flores.

*(e do Benfica, clube que me irrita profundamente).

6.05.2008

Em casa

Como somos duas contra um com muito menos, não há futebol.
Mas claro, temos de torcer por alguma coisa, por isso, eu é pela Jillian, a minha filha será pelo Rami (acho). O Christian irrita-nos e o Chris faz-nos pena. Em breve será a final, na semana da moda em NY.
E hoje foi o puto quem se lembrou de quem tinha sido eliminado ontem ("o dos bonés").
O pai acha muito natural que, se está a crescer no meio de duas mulheres, tenha conversas femininas.
Eu acho muito normal desde que não me mace com coisas de futebol.
Pronto, tem a caderneta e sou eu que lhe compro os cromos (de puro peso na consciência).

Honestamente

Ao almoço, queixo-me a um amigo da atitude de outro. Ele responde, "os homens são uns parvos".

6.03.2008

Meia hora

a olhar para dentro do frigorífico a tentar lembrar-me porque tinha aberto a porta.
Não é demência, é cansaço.
E não é cansaço-coitadinha-trabalho-escolas-supermercados-ginásticas-banhos-jantares-casa por arrumar.
É mais cansaço-fim-de-semana-entre-funerais-e-festas-onde-não-me-apetecia-ir-porque-depois-nunca-mais -recupero-e-todos-os-fins-de-semana-são-meus-viva-a-custódia-integral-sem pausas nem para vir à tona respirar.
E é também cansaço-em-7-meses-mudei-de-emprego-3 vezes-e-não-faço-a-menor-ideia-de-quando-vou-ter-férias-mas-tão-cedo-não-é.

Se calhar nem é preciso

chegar aos 35.

Ontem, furiosa porque não conseguia logar-me no myspace, tinha a certeza que me tinha registado na coisa, tive de verificar a caixa do correio. Afinal não tinha, era no Facebook (mas aquelas coisas são todas iguais não é? Até é um erro muito natural...)

6.02.2008

Eu tambem quero fazer um post sobre a Amy Winehouse

Depois de entrar em depressão com este post da Vieira, entra-me a criancinha no carro deliciada "sabe aquela que a mãe disse que era drogada? Elas contaram-me que ela caiu no concerto!".
A minha filha de 9 anos tem amigas que vão ver a Amy ao RInR, pois tem, é o meu calvário aquela ginástica. Para além de ter de a levar e trazer a horários impossíveis, é a segunda mais nova da aula e muitas das colegas têm 15 e 16 anos. Claro está que as tratam (às mais novas) como mascotes a quem têm o dever de ensinar as partes pesadas da vida em que se acham mestres e daqui a uns tempos nem quero imaginar o que virá desse lado. Mas é a acrobática, é preciso miúdas pequenas para levantar e um corpo de 9 anos com tamanho de 6 dá muito jeito, que para alguma coisa tinha de lhe valer ser para o pequeno.
Explico-lhe que muitos cantores se drogam e bebem imenso e claro que me pergunta porquê. Porque será? Realmente não faço ideia, embrulho uma teoria qualquer que não explica nada mas no fim ainda me enterro mais:

- Tu sabes que toda a gente bebe álcool. Os adultos às vezes também bebem muito quando saem à noite, achas muito diferente de se drogar?
-Sim, drogas deve ser mais perigoso.

Entre as da ginástica e as da colónia de férias, caladinha que nem um rato a ouvi-las (a miúda que fala sem parar), há-de sair doutorada em teoria de sexo, drogas e rock and roll antes dos 12.

Demência precoce

Dos dois livros que trouxe da Feira para mim, um deles já tinha em casa e até já li mais de metade dele.
Quando chegar aos 35 estou completamente senil.

Depois há dias em que tudo

mas tudo pode fazer com que a vida pareça insuportável.

Este post também não ajuda nada (principalmente porque, como sempre, não escrevi nada daquilo que queria escrever).

6.01.2008

Coisas que até me convenciam a ser ecologista



Miguel Câncio Martins.

Giro de cair para o lado, Arquitecto, trabalho irrepreensível. Segundo a revista de Viagens da Visão, agora quer fazer um hotel ecológico. Perfeito?

pessoas com extremo bom gosto