1.28.2010

iPad

expliquem-me por favor para que serve isto [para além de ser giro e de ir dar cabo de umas boas centenas de publicações em papel].
levam-no para a praia para ler o vosso próximo livro? andam com ele no metro para trocar mails? metem-no no bolso do casaco para aceder ao facebook na esplanada?

1.27.2010

designers are meant to be loved not to be understood



[as sete regras do design]

não gosto especialmente de autocolantes de parede, mas estes são lindos [mais aqui].

♥ is

de manhã vejo-lhe os bolsos, há desenhos, há sempre desenhos. procuro os corações mas não há corações, há riscos negros. a namoradinha de 5 anos quer que ele morra. pergunto-lhe porquê e ele explica que por vezes quer brincar com outras pessoas e ela se irrita imenso porque assume que ele tem de estar à disposição dela. quanto mais ela grita e faz birras, mais tempo demoro a ir ter com ela.

não faço ideia se estas crianças vêem muitas novelas [há desenhos animados que são autênticas novelas] ou se tudo isto é genético e se vai perpetuar ao longo de toda a vida nas várias relações que terão. mas gostava que fosse objecto de estudo.

1.26.2010

I already forgot how I used to feel about you

quem me conhece sabe que eu não primo pela excelente memória. sou incapaz de fixar nomes, títulos de livros e de filmes e tudo ao qual não possa associar um registo fotográfico [porque só consigo fixar imagens, o que significa que nunca esqueço uma cara e nunca me lembro de um nome]. também me esqueço de muitas coisas que aconteceram, passado uns dias. isto é tão bom, acho mesmo que [sendo um defeito] é a qualidade que mais aprecio em mim. vi este filme há uns tempos, é fabuloso. sei que alguém me recomendou e acho que foi uma pessoa que me é querida mas não me consigo lembrar quem foi. mesmo.

vanishing point



via

isto é tão tão bom.

1.25.2010

if

se um blog não servir para mais nada, há-de servir para olharmos para as nossas palavras atrás e fazer um balanço ou vários.

um ano e dois meses após este post tudo está igual na minha vida. tudo. até a camisola que tenho vestida é a mesma da foto.

excepto que nesse dia eu ainda acreditava que daí a um ano e dois meses tudo estaria diferente.

1.21.2010

♥ is

esconder-se na casinha de madeira onde os adultos quase nunca vão para dar beijinhos à namorada. aos 4 anos.

drop



daqui

1.19.2010

grid



ainda do post abaixo, um dos exemplos que é apresentado como usando a grelha e mantendo a fluidez de design é este poster de 1955 do Josef Müller-Brockmann, que vi ao vivo nesta exposição. lindo.

designers

[quantos designers terei a ler-me, se algum?]

quantos de vocês usam a grelha?

thing



daqui


não que eu goste de o admitir, mas há uma probabilidade bastante grande de eu ser tão frágil como vocês todos.

cinnamon

é a minha palavra inglesa favorita. e no entanto detesto-lhe o sabor.

mirror blog

eu às vezes tenho medo de escrever. eu às vezes tenho medo de não ter nada de interessante para dizer. eu às vezes não quero que as pessoas percebam que a minha vida não é nada de especial. eu às vezes não quero dizer absolutamente nada.

eu cada vez leio menos e vejo mais imagens.

[estive a fazer a limpeza do greader].

1.18.2010

prophet

em criança era frequentemente assolado por pesadelos. sonhava com carros que se despistavam na estrada decepando cabeças, com pontes que caiam, com enxurradas que viravam cheias e deixavam crianças e adultos sem casa, vogando entre telhados em jangadas improvisadas feitas de portas arrancadas pelo temporal. isto todas as noites, de tal maneira que começou a arranjar maneiras de não dormir à noite, cabeceando nas aulas o dia todo. a preocupação dos pais transformou-se no medicamento receitado pelo médico que o fazia dormir sem sonhos. de nada servia porém, mal se distraía durante o dia, apareciam de novo diante dos olhos imagens horrendas, corpos de bebés enterrados em escombros, pessoas torturadas, gritando sem som, naquilo que ele assumia como premonições [nunca o saberia].
foi só quando na escola entrou no clube de fotografia, onde aprendeu a tirar e a revelar fotografias analógicas, que os flashes de imagens começaram a escassear até desaparecerem por completo. parecia ter-se livrado dessa terrível maldição que o consumia.
até o dia em que, sozinho no estúdio, às escuras e com as mãos mergulhadas em ácido, ao revelar o seu primeiro rolo analógico, as descobriu lá todas, impressas em papel fotográfico.

1.15.2010

these days



daqui

em dias como hoje em que tudo o que sinto é desmotivação não vontade cansaço frio desespero cinzento apetecia-me um escritório assim, que fosse um prolongamento de casa e onde eu trabalharia sozinha, sem qualquer tipo de ruído à volta que não fosse música criteriosamente escolhida por mim [jazz, podia ser]. eu ía produzir tanto, mas tanto.

1.14.2010

home



daqui

preciso de uma casa grande. preciso de uma casa gira. preciso de coisas novas para a casa. preciso de uma casa nova.

1.13.2010

those who live by the sword

a minha filha não me acha bonita mas acha-me inteligente. a minha filha não se acha inteligente mas acha-se bonita*. a minha filha acha o irmão bonito e inteligente.
recorro ao irmão: a mãe é gira ou não?
- a mãe é linda! - responde sem hesitar.
- a mãe ensinou-o a dizer às raparigas que são lindas quando elas perguntam se são.

[caraças, pois foi, tinha-me esquecido completamente disso].

*pese embora o fardo que carrega há anos do igualzinha a si.

1.12.2010

PG 18 III

linka-me.

PG 18 II

faz-me um post.

PG 18

comenta-me mais abaixo.

the hole

nessa altura, em que tudo é tortuoso, voam pontos de interrogação por todos os lados e são como as moscas no verão que é preciso enxotar com as costas da mão. porquê o que fiz de mal disse coisas a mais não fiz o que era necessário sou eu e se tivesse ligado. tudo é lixo e as moscas-ponto-de-interrogação fazem-lhe razias sem tréguas. tudo é lixo e sabemo-lo bem, são resíduos recicláveis que se agarram à pele. demoram às vezes dias às vezes anos a desaparecer, transformados em bases para outros copos, capas para livros diferentes, lentes para óculos de graduação menor. durante esse tempo, em que transportamos connosco esse lixo insuportável rodeado por moscas, poucas coisas desviam a nossa atenção do desejo de o largar para sempre, o telhado de casa foi arrancado, chumbámos no exame, perdemos o emprego, o nosso melhor amigo está na merda mas tudo o que o nosso cérebro debita é em que é que eu errei. times of wonder, meus amigos. o pior é quando já nada existe e somos ainda assim obrigados a sobreviver sem algo que nos atormente. sobra o aborrecimento infinito. e o glee, vá, que até é engraçado.

life's boring

não duvidemos que a vida é aborrecida. a vida é assim mesmo, feita de um número infinito de pequenos momentos maçadores que não ficarão para a História. se assim não fosse não existiriam livros restaurantes discotecas revistas cinemas séries de televisão redes sociais jornais. precisamos de coisas para nos esquecermos que a vida é chata. está a chover imenso. quantas conversas hoje já rodaram sobre este facto, até agora? eu não tenho nada a dizer e vocês também não. seca.

1.10.2010

A náusea.

É uma espécie de enjoo. De repulsa.
Por qualquer razão, de súbito começamos a reparar melhor em coisas, situações e relações a que parecíamos estar habituados ou a que éramos indiferentes, e sentimos uma vertigem.
Ficamos com uma hipersensibilidade à falta de qualidade de tantas coisas que nos rodeiam.
Reparamos que temos lama nas solas e quem nem batendo com força os pés no chão ela salta.
Pode ser a esplanada na bela da beira-rio, que nos apresenta um menú desgraçado.
Filetes de corvina no forno com natas. Corvina mal descongelada, com natas. Aqui à beira rio?
Tudo com natas. Parece que deram ao Diabo uma concessão no Paraíso. Porquê? É de direito natural que estes marmanjos explorem esta coisa neste sítio tão bonito? Porque é que ninguém os corre daqui? Enjoo, enjoo.
Pode ser a nossa amiga de quem o namorado faz gato-sapato. Ouvimo-la mil vezes, damos-lhe o mesmo conselho e ela volta ao mesmo. Porquê? Não tem amor-próprio? Coluna vertebral? Mais não, please. Não venhas outra vez com essa conversa. Enjoo. Náusea.
Aquela sensação, tão habitual, de que se vive sempre num contínuo desenrascanço, a fazer tudo em cima do joelho, de que ninguém pára para pensar, torna-se insuportável.
Nesse estado de hipersensibilidade, olhamos tudo ao microscópio. Deixamos a vista desarmada de lado. Passamos a achar que tudo precisa de ser pasteurizado.
Passa a ser perigoso abrir o jornal.
Mesmo em países que nos pareciam, pronto, civilizados começamos a sentir qualquer coisa de fétidozinho no ar. Olhem para o que se passa em Inglaterra, com a falta de qualidade da política. Pior do que a nossa.
Não há nada de novo. Isto sempre foi assim. Pode estar pior, mas sempre foi assim. Só que, ao acordarmos do estado catatónico, ao sacudirmos o torpor, revela-se toda a nossa impotência.
É esse a fonte da náusea. A nossa impotência para mudar as coisas num ápice. As mudanças são feitas devagarinho. Com avanços e recuos. Agora recua-se.
Percebemos o significado profundo de sermos assim mesmo. É a mancha humana, como dizia o outro. E não gostamos. Mas depois passa. Olhamos para umas coisas mesmo bem feitas, temos umas alegrias colectivas e passa. É uma espécie de doença bipolar social, que se apoderou da psique europeia.

1.08.2010

friday fever



[nunca achei piadinha nenhuma a metrossexuais, deve ser defeito meu].

1.07.2010

acceptance

aceitar aceitar aceitar aceitar aceitar aceitar aceitar

[novo mantra, em repeat infinito]

e pronto, é isto.

revolutions



arrastei os meus filhos [o "arrastar" aqui não foi literal, na verdade apenas lhes menti dizendo que íamos ao Starbucks e - oh que coincidência, o CCB é mesmo aqui ao lado] para esta exposição no domingo, que era o último dia. houve protestos, claro, e com alguma razão, a verdade é que a exposição não era grande coisa [pode ser impressão minha mas as exposições da experimenta são uma verdadeira porcaria sempre, o que há-de deixar a noção de "gratuito" e "experimental" inevitavelmente agarrada a coisas desinteressantes]. isto para dizer que apesar de não ser fabulosamente gira, a ideia de fundo era mostrar o design gráfico antes do computador, e sobretudo deixar a noção que nós [na era pós computador] não temos de todo: que quando surgiram os programas gráficos, a sensação que os designers tiveram foi a de quase omnipotência. deve ter sido tão bom que por um instante os invejei, da mesma forma que invejo as pessoas que viveram o 25 de Abril.

1.06.2010

conservative

é verdade que me confessei conservadora mas não é verdade que o seja. torço para que o referendo sobre o CPMS não se realize, torço para que todas as leis sobre este assunto sejam aprovadas, adopção incluída, não porque "os paneleiros são pessoas, coitadinhas, que têm o direito aos mesmos direitos dos outros" como diz a esquerdalha moralista e paternalista de minorias, mas porque as pessoas vão viver a vida como quiserem e quem sou eu [nós] para lhes dizer que sim podem casar ou não não podem casar e criar crianças?

1.05.2010

forget

esqueço-me muitas vezes, demasiadas vezes, que já não é um bebé mas sim um homem em miniatura. um homem que fala muitas vezes em casamento e em bebés. pede-me por favor para ter um bebé. mas a mãe não tem um marido, não pode ter bebés. então, casas com o pai. mas o pai e a mãe já foram casados, não vão voltar a ser. então casas comigo. mas as mães não podem casar com os filhos. mas eu sou o teu homem. és o meu bebé. não sou bebé, eu vou casar com a madalena. a mana pode ter um namorado? depois ela casava aos 10 anos e deixava-me em paz!

sim, ainda sou eu que o visto de manhã, mas pelo menos tornei-o um conservador do piorio. em alguma coisa acertei, ufa.

1.02.2010

novo ano, template novo.

1.01.2010

Um sorriso

Fiz a marginal de regresso a casa na primeira manhã do ano. Eram quase oito horas. Duas festas. A segunda acaba por fazer descarrilar os horários. Nem acredito que me deitei tão tarde.
Fiz a marginal com um sorriso estampado no rosto. A cópia possível de um sorriso lindo que gravei na memória. Um sorriso lindo que, de súbito, iluminou uma cara sem nada de especial com que me cruzei durante a noite, e que não conhecia. Umas palavras de circunstância, também nada de especial, mas que desvendarem um sorriso que era todo ele um caloroso abraço. Se calhar não o volto a ver. Os sorrisos fugazes não trazem números de telefone acoplados. E eu já não me esforço muito por estas coisas.
Antes de reparar o desvario com um sono trocado, ainda abro o FT online.
Está lá, em destaque, a história de Mina, uma iraniana de 36 anos que, nestes dias, se prepara para a morte sempre que sai à rua, em protesto contra o regime tirânico sob o qual vive.
Mina escreve o nome e morada num pedaço de papel, para que o seu corpo possa ser identificado, caso ocorra o desfecho fatídico.
Imagino que Mina possa sorrir de forma tão luminosa como a que vi esta noite, sempre que, após tais preparativos, regresse a casa a salvo, no fim de mais um dia empolgante nas ruas de Teerão.
O drama de Mina é a falta de liberdade, contra a qual dá de penhor a sua vida.
Ao pé deste, os nossos dramas são do tamanho de formiguinhas. A conta para pagar, a avaria do carro, o emprego mortiço, o défice que nos estrangula, um governo que não governa, um país adiado.
Mina não põe as coisas desta maneira mas, no fundo, luta pelo direito a ter só os nossos pequenos dramas. Ter liberdade significa, antes de tudo, não precisar já de verter sangue e lágrimas para a conquistar. E poder então sorrir ou chorar só por coisas mais simples e pequenas.

pessoas com extremo bom gosto